É hora de jogar à favor da natureza

Já parou para pensar que você, jogando o seu game favorito, poderia estar prejudicando o meio ambiente lançando mais CO2 para a atmosfera?

Pois isso acontece e é o que fala o pesquisador Ben Abraham no seu novo livro “Digital Games After Climate Change”. Já na introdução, Ben relembra da sua infância mostrando os danos causados ao meio ambiente por estar jogando.

“Sem ar-condicionado, a sala já estava sufocante, mas com vários dispositivos de uso intensivo de energia ligados – um console, televisão CRT, PC e monitor – tornou-se quase insuportável. Esses videogames, movidos a eletricidade gerada a partir da queima de combustíveis fósseis, existiam em um ciclo de feedback com a própria atmosfera.”

Segundo o autor, para continuar correndo atrás da meta de 1,5 graus Celsius do Acordo de Paris, será necessária uma ação mais direta (protestos) com membros da indústria para agitar a mudança, aplicando um tipo diferente de pressão popular.

O aumento da intensidade gráfica dos jogos de última geração fez com que o consumo de eletricidade aumentasse. Os jogos multiplayer online exigem dispositivos e centros de dados com uso intensivo de energia, os chips, cada vez menores, exigem significativamente mais eletricidade para produzir.

Os compromissos de carbono dos principais fabricantes de consoles e produtores de conteúdo digital, Microsoft, Sony e Nintendo, variam. A Microsoft planeja ser negativa em carbono até 2030. Enquanto isso, a Sony, tendo anteriormente feito apenas um vago compromisso com uma “pegada ambiental zero” até 2050, anunciou recentemente uma meta revisada de carbono neutro para 2040, juntamente com os esforços para usar 100% de energia renovável em suas próprias operações até 2030. A Nintendo, por sua vez, não oferece promessas de carbono ou neutralidade ambiental.

Essas abordagens variadas, diz o pesquisador, refletem uma indústria que “não tem liderança”. O mais próximo que possuem é o Playing for the Planet, um programa da ONU Meio Ambiente envolvendo empresas de jogos.

Mas como seria um videogame ecológico?

Uma das maneiras pelas quais os criadores de jogos podem esperar promover mudanças é por meio dos próprios jogos. Títulos como Beyond Blue, Eco e Endling destacaram temas climáticos e ambientais como meio de educação e persuasão.

“Faz todo o sentido. Se você é um desenvolvedor de jogos, quer usar suas habilidades para ajudar com o problema. Mas quando olho para os desafios de persuadir as pessoas em torno de uma questão tão controversa e ideológica quanto o clima, não parece ser uma batalha que pode ser vencida dessa maneira.”, diz ele.

Segundo Abraham, existe uma solução mais direta e material: a avaliação, medição e corte total das emissões que derivam do desenvolvimento de videogames.

Uma das principais descobertas do livro é que em 2020 as emissões da produção global de jogos ficaram entre 3 milhões e 15 milhões de toneladas equivalentes de CO2.

A mudança mais fácil que os estúdios, grandes ou pequenos, podem fazer é mudar seu fornecimento de eletricidade para energia 100% renovável ou com compensação de carbono. A partir daí, sugere a venda de jogos digitalmente, eliminando as emissões difíceis de rastrear da fabricação e transporte de mercadorias. Se esses passos forem seguidos, Abraham acredita ser possível um “jogo verdadeiramente ecológico”, que reconheça seu lugar no “mundo material” e tome medidas para eliminar os danos que causa aos “humanos, plantas, animais e ao planeta”.

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